quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

CARTA DO MORENISMO

Uma das principais sensações do campograndense no contexto atual é escutar que a capital do Mato Grosso do Sul não possui aspectos culturais próprios. Por vezes, e quase sempre, percebe-se que tais afirmações trazem o desconhecimento de elementos mais nobres, intrínsecos a formação social cultural histórica da cidade: o multiculturalismo e a nossa miscigenação.

Como podemos entender uma cidade que tem uma dinâmica étnica permanente?
Para quem mora em Campo Grande não precisa andar mais que três quadras pra entender este caldeirão de linguagens, de pronuncias, de valores étnicos e morais. Em função do próprio crescimento demográfico nos últimos 30 anos.

O Morenismo surge para divulgar e valorizar o que é a Cultura de Campo Grande, promovendo ações que contribuam para a auto-estima do cidadão local sobre a identidade regional que temos. É um movimento de afirmação, de aproveitamento do que produzimos. Não se trata de criar modelos e nem linhas, mas sim de afirmar: é de Campo Grande sim. Mesmo que tenha sua origem fora da Cidade, é como o povo que aqui se instalou, trouxe suas contribuições e aqui criou características próprias.

O movimento prevê ações em encontros artísticos, universidades, simpósios, seja através de discussões ou apresentações artísticas, seja num artigo cientifico ou em uma estética que destaque os elementos da Cultura Campograndense. “Fim de tarde, cai o azul do céu. Pôr-do-sol no horizonte, um instante de paz no olhar me acalma”, isto é Campo Grande. Escutar a revoada dos pássaros entre as laranjeiras e mangueiras com as cigarras a moda de uma canção no rádio com musica de fazenda, tomar um tereré nos altos da avenida Afonso Pena ao som barulhento dos ritmos mais comerciais do momento.

Como podemos sentir o sabor da culinária de Campo Grande sem que os aromas multiculturais não vacilem o nosso sentido? Falar do sobá, sushi, quibes, tabule, churrasco, arroz carreteiro, bobó de galinha, mandioca amarela, sopa paraguaia, saltenha, chipa, tereré, doces de frutas, licores de pequi e guavira, entre tantos, é a mistura do que veio de fora e aqui encontrou um jeito próprio de prepraro.

Qual é a melodia que mais caracteriza a cidade morena? O chamamé correntino, o blues, o vanerão, o rock, o sertanejo, a moda de viola, a polca paraguaia, a polca rock, a musica erudita ou experimental...são muitos os ritmos que dão a mistura e criam as tribos.

Quem nunca viu edifícios de concretos com asas de tuiuiú ou com a figura forte e temida da onça pintada? Ou ainda o cantar das araras pela cidade, nos viadutos e muros da capital as etnografias kadiwel? Cerâmicas nipônicas de Neide Ono percorrendo o mundo...se não viu, é porque não conhece Campo Grande.

E se estudos sobre liquens, pesquisas antropológicas de culturas indígenas e de avanços nas ciências agrárias e veterinárias além dos estudos sobre doenças tropicais podemos mostrar que a Cidade tem abrigado muitas destas searas da produção cientifica.

Há anos diversos atores, dramaturgos, diretores, dançarinos, coreógrafos, palhaços, mágicos, cenógrafos, iluminadores, lutam pelo teatro, dança e circo na cidade. Há cineastas, escritores, designers, arquitetos e diversos cidadãos fazendo a Cultura e a identidade regional de Campo Grande todos os dias. Muitos são os nomes que daí ganharam o mundo, entre Aracy Balabanian, Glauce Rocha, Manoel de Barros, Tetê Espindola, entre inúmeros.

Como a cidade nasce entre o encontro de Prosa e Segredos, muitos já foram e são testemunhos da veia poética presente. Que Campo Grande tenha o orgulho de afirmar e reconhecer sua própria identidade cultural: a multicultura.